A saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual assim também deve ser considerada
A vivência sexual, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como sendo um dos indicadores de qualidade de vida, influencia a saúde física e mental, pensamentos, sentimentos, ações e integrações. Neste contexto, compreendemos a saúde sexual como sendo a relação dos aspectos: sociais, somáticos, intelectuais e emocionais, influenciando positivamente a personalidade e a capacidade de comunicação interpessoal.
A sexualidade é dinâmica e mutável com o tempo, espaço e grupo social, sendo constituída de fatores internos, como afetividade, intelecto, cognição e emoção, e de fatores externos, como área geográfica, religião, sistema econômico, hábitos e costumes, ambiente social e cultural. É a expressão global da personalidade, e mesmo variando entre culturas e indivíduos, deve ser entendida como parte integrante da história global das pessoas, constituindo-se em aspecto humano que não pode ser separado dos outros aspectos da vida.
Segundo a teoria Freudiana, a sexualidade está presente desde o nascimento, quando já existem sinais para a capacidade de experiências sexuais. A forma como a libido se processa na criança dará significado ao desenvolvimento total da personalidade e em sua capacidade de se ajustar ou não aos problemas do cotidiano.
Desta forma, é de suma importância a análise da sexualidade como resultado de três aspectos fundamentais do ser humano: biológico, sociocultural e psicológico e ainda, ressaltar que depende de três fatores inter-relacionados: identidade sexual, identidade de gênero e comportamento sexual. Esses fatores afetam o crescimento, desenvolvimento e funcionamento da personalidade, sendo sua totalidade chamada de “fatores psicossexuais”. O termo psicossexual corresponde ao desenvolvimento e funcionamento da personalidade; não se limita apenas aos sentimentos ou emoções sexuais, nem é sinônimo de libido, no sentido freudiano mais amplo.
Historicamente, o exercício da sexualidade passou por um grande ciclo repressivo situado entre os séculos XVII e XX. Porém, mesmo antes desse período, já havia passado por grandes proibições, imperativos de decência, esquiva obrigatória do corpo, contenção e pudores, com a valorização exclusiva da sexualidade adulta; o sexo era subordinado à reprodução e o discurso médico sustentava que sexo sem finalidade reprodutiva poderia ser sintoma de doenças, incluindo a loucura.
No século XX, na década de 1960, a identidade feminina e a condição social da mulher eram reduzidas somente a fatores biológicos, levando-se em consideração a estatura menor, menor força muscular, as dimensões do cérebro e o processo reprodutivo que “enfraquecia”, caracterizando a chamada “inferioridade biológica da mulher”, conceito referido tanto no discurso científico como na sociedade em geral. A mulher era vista como “feita para ser mãe” (ter um útero significava parir); via-se uma correspondência perfeita entre atributos físicos e funções sociais.
Em todas as culturas, o sexo deixou de ser uma adaptação biológica para se tornar um ponto focal para códigos sociais e morais, gerando temas que passam pela religião e pela arte. Mesmo existindo dentro de uma própria sociedade diferenças marcantes no comportamento e ideologia sexuais, o sexo funciona dentro das sociedades humanas como uma área básica para a moralidade e a organização social.
Diferentemente dos homens, as mulheres, durante séculos, foram condicionadas pelos ensinamentos transmitidos culturalmente a reprimir a sexualidade. Desse modo, mesmo havendo mudanças nos padrões culturais, há divergências entre o novo comportamento e a norma cultural anteriormente aceita, gerando conflitos internos na maioria das mulheres.
Na história da humanidade, apenas em breves períodos houve uma visão mais liberal do exercício da sexualidade. Nunca, no entanto, o estudo do exercício da sexualidade humana foi considerado importante e, apenas nas últimas décadas, vem sendo visto como um tema merecedor de atenção pela ciência.
Desta forma destacamos a importância, cada vez mais imperiosa, dos profissionais da saúde aprofundarem seus conhecimentos no estudo e orientação terapêutica da sexualidade humana e seus transtornos, bem como desenvolver habilidades no sentido de aperfeiçoar o manejo clínico, considerando a abordagem interdisciplinar que esta área de atuação exige.
Seguindo por este caminho, seremos nós, profissionais da saúde, capazes de promover ações preventivas, intervenções orientadas e a melhoria da qualidade de vida. Estaremos também, favorecendo a tomada de decisão de nossos clientes, dentro de um modelo de saúde menos fragmentado e voltado para a promoção de um novo modelo de atenção à saúde sexual.
Texto extraído da dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de pós-graduação em Ciências da Saúde.
Gonçalves (Tozo) Imacolada Marino, Avaliação da sexualidade em mulheres submetidas à histerectomia para tratamento do leiomioma uterino. São Paulo, 2008.
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